Ok, me ofereceram uma bolada de 150 dólares pra esquecer um pouco as férias e curtir cálculo III com a galera que ficou de exame, então aqui estou eu. O pedido foi queda livre, então peguei os... três exercícios do livro sobre queda livre pra resolver aqui detalhadamente pra vocês.
Como de costume, ressaltarei no final. Mas estudem bastante o primeiro, o segundo é deveras desnecessário do ponto de vista de uma prova de cálculo, e o terceiro será apenas no caso de ele querer usar queda livre como exam killer.
1. Deixa-se cair um corpo de 10 "slugs" de massa de uma altura de 1000 pés sem velocidade inicial. A resistência do ar é proporcional à velocidade do corpo. Se a velocidade limite é 320 pés/s, determine:
a) uma expressão para a velocidade no instante t;
b) o tempo necessário para o corpo atingir a velocidade de 160 pés/s.
Ok, galera. Queda livre é um negócio menos complicado do que parece. Vamos começar lá do princípio, puxar a equação pelo esqueleto dela, e aí começamos a trabalhar porque aí dá pra entender bem. A equação usada aqui é:
Fg=ma+Kv
Sendo Fg a força da gravidade, m a massa do objeto, a a aceleração, K uma pequena proporcionalidade da resistência do ar e v a velocidade. Podemos igualar F a mg, ficando assim:
mg=ma+Kv
Passamos m dividindo tudo:
g=a+Kvm
Ok, mais uma consideração: quando a resistência do ar é proporcional à velocidade do corpo, temos que aquela constante K é definida pela razão entre o peso (massa vezes aceleração da gravidade) e a velocidade inicial. Difícil de entender? Seguinte:
K=mgv0
Sempre quando o exercício disser "A resistência do ar é proporcional à velocidade do corpo".
Substituindo isso na equação temos:
g=a+mgv0×vm=a+gvv0
Sendo assim, a equação está quase pronta pra gente trabalhar nela. Falta uma única consideração antes de jogar os valores constantes: note que a aceleração a é a derivada da velocidade com relação ao tempo, logo:
dvdt+gvv0=g
Agora sim temos uma equação diferencial bonita e gostosa de se trabalhar. Ao jogar os valores, só precisamos fazer uma consideração: no sistema de medidas utilizado no exercício (slugs, pés, etc.) a gravidade se dá por 32.2 pés/s², que o exercício nos dá a colher de chá pra arrendondar pra 32 pés/s². Logo, jogamos tudo o que o exercício nos dá:
dvdt+32320v=32dvdt+0.1v=32
Resolvendo a equação diferencial usando o método do fator integrante:
I(t,v)=e∫0.1dt=e0.1t
e0.1t[dvdt+0.1v]=32e0.1tddt[ve0.1t]=32e0.1t
Integrando dos dois lados:
ve0.1t=32e0.1t0.1+C=320e0.1t+C
Isolando v:
v=320+Ce−0.1t
Agora vamos analisar as informações que o exercício nos dá pra determinar a constante C: ele nos diz que não há velocidade inicial, o que indica que a velocidade inicial é 0. Logo, quando t = 0, v = 0. Podemos usar isso na equação:
v(0)=320+Ce0=0320+C=0C=−320
Sendo assim:
v=320−320e−0.1t
Essa é a resposta da letra a, que pede uma expressão para a velocidade no instante t. Como vê, a única variável da equação é t, o que indica que chegamos no melhor estado possível pra equação.
Tendo essa equação, no entanto, fica fácil resolver a letra b, que pede o tempo necessário para o corpo atingir 160 pés/s. Só substituir v por 160 e isolar t. Veja:
V(t)=320−320−0.1t=160320e−0.1t=320−160=160e−0.1t=0.5−0.1t=ln0.5≈−0.693t=−0.693−0.1=6.93
Ou seja, o tempo necessário é de 6.93 segundos. Resolvido o primeiro exercício.
2. Lança-se um corpo de massa m verticalmente para cima com velocidade inicial v0. Supondo nula resistência do ar, determine:
a) a equação do movimento no sistema de coordenadas da figura;
b) uma expressão para a velocidade do corpo no instante t;
c) o instante tm em que o corpo atinge altura máxima;
d) uma expressão para a posição do corpo no instante t;
e) a altura máxima atingida pelo corpo.
Vamos reconsiderar a equação que elaboramos anteriormente:
dvdt+Kvm=g
Veja bem, o exercício nos dá uma ajudinha aqui: "supondo nula resistência do ar". Resistência do ar nula indica que a constante K é 0. E outra consideração relevante é o fato do corpo estar sendo lançado verticalmente para cima, sendo assim a gravidade se opõe a ele e numa análise vetorial mais complexa chegaríamos à inversão de sinais de g.
Mas olha, vamos apenas usar a lógica básica: no outro exercício o objeto tava descendo então g era positivo, nesse ele está subindo então g é negativo. Simples assim.
Logo:
dvdt=−g
Essa é a resposta pra letra a. Para as outras vamos chegar através de integrais a todas as equações que nos jogaram no ensino médio. Veja bem, a letra b pede a velocidade do corpo no instante t. Se temos dv/dt, só integrar:
v=∫dvdtdt=∫−gv=−gt+C
Temos que a velocidade inicial (t = 0) é v0, então façamos essa substituição:
v(0)=C=v0
Sendo assim:
v=v0−gt
Para determinar o instante tm aonde a altura é máxima, temos que usar aquele princípio básico de equação de segundo grau. Lembra? Máximos e mínimos. O valor máximo de uma parábola com concavidade pra baixo é descoberto ao igualar a derivada da função a 0. A função, no caso, é a posição. Ou seja:
dsdt=0
Sabemos pelas leis fundamentais da mecânica que a velocidade é a derivada da posição, logo usamos a equação que descobrimos anteriormente:
dsdt=v0−gtv0−gt=0
Agora vamos fazer o seguinte: já que não temos valores constantes pra colocar aí, vamos isolar t e criar uma equação pra isso. É suficiente.
gt=v0t=v0g
O outro exercício nos pede uma expressão para posição. Raciocínio lógico puro. Se a velocidade é a derivada da posição, a posição é a integral da velocidade, sendo assim vamos integrar aquela equação que achamos para a letra b.
S=∫(v0−gt)dt=v0t−g(12t2)+C=v0t−gt22+C
Temos que a posição inicial é 0. Logo, (t = 0, v = 0). Jogando os valores:
S(0)=0v0−0g2+C=0C=0
E a equação final é:
S=V0t−gt22
E o último pede a altura máxima, não o tempo necessário pra ela. Mas bem, se temos o tempo necessário pra ela, é só substituir t pelo tm que descobrimos na letra c.
Smax=V0V0g−g2(V0g)2=V20g−gV202g2=V20g−V202g=V202g
E enfim está tudo resolvido. Parece meio confuso a parte de máximo e tal, mas duvido bastante que isso vá cair na prova, é só pra ter queda livre dissecada passo a passo.
3. Um corpo de 1 "slug" de massa é solto no espaço com velocidade inicial de 1 pé/s, e encontra uma resistência do ar dada exatamente por -8v². Determine a velocidade no instante t.
Parece o exercício mais fácil, mas é muito mais difícil que o primeiro também. Devido ao fato do corpo ser lançado no espaço, temos que estabelecer uma força com relação ao corpo, e não à gravidade. Assim:
Fc=Fg−8v2ma=mg−8v2mdvdt=mg−8v2
Substituindo os valores que temos:
1dvdt=1×32−8v2=32−8v2
Ok, e agora? Fator integrante? Não. Não temos a equação no formato de fator integrante, o que vamos fazer é "brincar" com ela um pouquinho com aquele método distributivo que aprendemos lá no começo.
dv=(32−8v2)dtdv32−8v2=dtdv32−8v2−dt=0
Integrando toda a equação temos:
∫132−8v2dv−∫dt=C
A segunda é fácil, a primeira vamos usar a ajuda das nossas boas calculadoras porque usa um método horrível. É muito duvidoso que caia algo do tipo na prova, então é só pra passar isso logo e ir pra parte que interessa mais: o resultado.
(132[ln|v+2|−ln|2−v|])−t=C
Usando mais propriedades (lnA - lnB = lnA/lnB) pra simplificar o que queremos:
132[ln|2+v2−v|]=C+tln|2+v2−v|=32C+32t=K+32t2+v2−v=eK+32t
Uma das respostas do livro chega nesse formato. A outra é v isolado bonitinho. Quem quiser isolar completamente v, tem essa saída brincando com álgebra até cansar (vou chamar convenientemente K + 32t de x).
A princípio, jogamos o 2 pro outro lado:
v2−v=ex−22−v
Depois multiplicamos os dois lados por 2-v pra deixar v sozinho:
v=ex(2−v)−2(2−v)2−v=(2ex)−vex−2
Então passamos ve^x pro outro lado de novo, porque vamos fazer um jogo de fatoração bem interessante:
v+vex=2ex−2
Fatorando:
v(1+ex)=2ex−2
Isolando v:
v=2ex−2ex+1=2×eK+32t−1eK+32t+1
Agora, claro, vamos descobrir o valor de K. Que aliás usaremos a seguinte propriedade:
eK+32t=eK×e32t=xe32t
Ou seja: descobriremos x. Muito mais fácil.
Sabemos que a velocidade inicial é 1, logo, quanto t = 0, v = 1. Então:
v(0)=2xe0−2xe0+1=12x−2x+1=12x−2=x+12x−x=1+2x=3
Sendo assim, as equações finais ficam, a seu critério, ou:
2+v2−v=3e32t
Ou:
v=6e32t−23e32t+1=2(3e32t−1)(3e32t+1)
E isso é tudo que o Bronson mais antigo tem sobre queda livre. Recomendo mesmo estudarem o primeiro se for cair novamente, os outros dois são muito mais complexos e duvido bastante que ele vá soltar na prova... Mas deixei aqui porque, se vocês entenderam os três, vocês dominaram a matéria e não passarão necessidade na prova de forma alguma.
Bons estudos, galera. Qualquer coisa é só me dar um toque.
valeu grilo é nóis, depois te pago uma coca já que a beer voce não pode... rsrs
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